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"O VENTRÍLOQUO E O MENINO"

                             “O VENTRÍLOQUO E O MENINO”

 

Sabe como é esses pequenos Municípios quando recebem um entretenimento qualquer, ainda mais quando se trata de um pequeno circo, esses circos chamados de mambembe, por serem simples, quase paupérrimos. Tem o palhaço, o ventríloquo, alguns malabaristas e outras atrações de somenos importância. O valor artístico era muito grande, embora isso, nesse caso, pouca importância ou nenhuma tenha.

 

Após terem montado a pequena e deficitária estrutura, que a rigor não ultrapassava dois dias de serviços, intensos, mas no máximo três dias, isso vencido, até chegar o dia da estréia, os funcionários e patrões tinham um boa folga. O dono do circo, cujo nome era Marcondes, além de administrador, era também o ventríloquo, o palhaço e um dos malabaristas. O homem era eclético e executava tudo com muita perfeição.

 

Decidiu ele que procuraria um velho amigo, sabia que residia naquela pequena  cidade, apenas não tinha o endereço, somente o nome completo. Tinha boas lembranças desse amigo, de tempos idos mas, não esquecidos. Considerando que há muito não o encontrava, saiu a procura do mesmo, perguntando aqui e ali, a todos que passassem pelo seu caminho.

 

Continuou andando e prestando atenção em tudo, haveria de encontrar alguém que lhe desse a informação, isso é, o endereço da moradia desse amigo que lhe fora no passado muito importante.

 

De longe avistou alguns meninos jogando uma “pelada”, mais grito, alvoroço e correria do que propriamente futebol. Entre dribles e boladas ele foi se intrometendo entre a gurizada.

 

Antes que algum desses moleques lhe mandasse sair do meio, aproximou-se e foi perguntando:

 

Aí meninada !!! Quem conhece um homem chamado de João Antunes, cujo apelido é Joca !!  Trabalhava na Ferrovia, hoje deve estar aposentado – completou ele, demonstrando calma e simpatia.  Alguém conhece ? – repetiu –

 

Os meninos, o olharam desconfiados, ficaram retraídos até que o visitante mostrou uma bela barra de chocolate.

 

Rapidamente um deles respondeu: Eu conheço !!  Eu conheço !!!

 

Qual é teu nome ?  - indagou Marcondes –

 

Luizinho. – respondeu o menino um tanto amedrontado –

 

Então sabes onde mora o Joca ?

 

Sei sim Senhor !!!

 

Podes me levar até a casa dele ?

 

Mas ele mora longe Senhor ! – observou o menino –

 

Eu te dou esta barra de chocolate, que achas ? Vamos lá ?!

 

Sim Senhor, vamos sim ! – Simultaneamente Luizinho foi passando a mão no chocolate e olhou para seus coleguinhas de futebol com cara de deboche, como quem diz, olha eu aqui com chocolate na mão !!! –

 

Foram indo estrada a fora, conversando e Marcondes foi aproveitando para contar histórias circenses. Observava o menino para ver o comportamento e a alegria do mesmo ao devorar o chocolate aos poucos.

 

Ao avistarem uma vaca à margem da estrada, pastando amarrada a uma corda, Marcondes lembrou-se das suas habilidades de ventríloquo, resolveu brincar com o menino.

 

Luizinho. – disse ele – Sabias que os animais falam ?

 

Falam nada seu Marcondes, o Senhor está enganado.

 

Pronto ! Foi o suficiente para Luizinho ficar com a “pulga atrás da orelha”.

 

Falam sim. – afirmou o homem do circo – Quer ver ? Vamos nos aproximar dessa Vaca.

 

Marcondes insistiu.

 

O menino apenas fez que acreditou. Enfim – balbuciou ele – se queres falar com  essa Vaca aí, então vá seu Marcondes.

 

Já junto à vaca, Marcondes lascou : Olá Dona Vaca.

 

Olá Senhor. – respondeu o animal –

 

A Senhora conhece esse menino ? – indagou  o visitante -

 

Ah se conheço !!!  Esse menino é muito danado, tira meu leite todos os dias, coloca-me em lugares em que não há pasto, me deixa sem água, etc... – A Vaca arrasou a reputação de Luizinho –

 

O adolescente ficou constrangido, percebia-se isso facilmente, em face de ruborizarão do rosto.

 

Luizinho saiu dali impressionado, mas nada falou ou reclamou. – pensou consigo mesmo, é verdade mesmo, os animais falam -

 

Os dois a deixaram de lado e seguiram pelo caminho. Andaram mais um pouco e avistaram um cavalo, também estava amarrado a uma corda e pastava tranquilamente.

 

Marcondes se aproximou e disse: Como vai Senhor Cavalo ?

 

O Cavalo olhou o intruso com desconfiança, seguiu se alimentando.

 

O Senhor conhece esse menino ? – Marcondes fez a mesma pergunta que fizera à

Vaca.

 

Esse menino ??!! – Respondeu irritado o Cavalo – Esse menino aí, me dá muito trabalho, faz montaria em mim, me faz cavalgar o dia inteiro e não me alimenta. Esse menino é muito mau !! – O Cavalo usara tom de voz determinado –

 

Luizinho voltou a ficar impressionado, mas também nada comentou. Ficou novamente ruborizado. Não tocou no assunto e foi apressando seu amigo Marcondes para partirem –

 

Seguiram andando e conversando....

 

Logo avistaram uma Cabrita, na mesma situação dos outros animais, amarrada e pastando solitária à beira da estrada.

 

Marcondes foi se aproximando do animal e Luizinho percebeu o perigo e lascou:

 

Seu Marcondes ?! – Não vamos falar com esse animal não, vamos seguir viagem. – disse o menino um pouco encabulado –

 

Mas porque Luizinho ?? – retorquiu Marcondes –

 

É que... É que... - gaguejou o menino – essa cabrita é muito mentirosa, inventa muita história...  Pode inclusive inventar coisas que irão causar uma má impressão da minha pessoa – concluiu ele tentando ludibriar Marcondes.

 

Hummmm – Resmungou Marcondes com cara de quem sabia do que se tratava, todavia se fez de desentendido para não constranger ainda mais Luizinho.

 

Assim, resolveram seguir a caminhada em busca do amigo perdido, Luizinho deu-se por aliviado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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RENÉ CAMBRAIA ESCRITO POR RENÉ CAMBRAIA Escritor
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