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EDIFÍCIO PALMARES - O crime que lhe deu origem e a tragédia do seu flagelo

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No princípio ele se chamava Hotel Universal, que ainda no século XIX pertencia ao Sr. Aureliano Brás. Em 1908 foi vendido para João Ramos & Cia., que resolveu alterar a sua razão social para Hotel Petrópolis e ainda estampou em sua fachada a frase que tornou-se a sua marca registrada: “Único que não tem mosquitos”. Em 1920 o prédio foi vendido para o visionário Adib Abay e, enquanto o velho Petrópolis montava as suas instalações no segundo andar do palacete Barão de Jaraguá, na Praça Dom Pedro II, após levar o seu prédio ao chão, Adib investe uma não pequena fortuna no que seria o majestoso Bella Vista Palácio Hotel.


Ao lado do Bella Vista, podia se contemplar o Hotel Maria Pimenta, de propriedade de uma distinta senhora de mesmo nome, que o vendeu para um cidadão chamado Passos. Este, numa tentativa desesperada de fazer o público esquecer a péssima reputação do seu novo estabelecimento, reconstruiu a sua fachada, mudou o seu nome para Hotel Central e ainda refutou os freqüentadores que lhe causaram a fama. Apesar de todos os esforços empreendidos, a má fama do Maria Pimenta só acabou quando o público o viu no chão e, em seu lugar, ser levantado o Edifício Delmiro Gouveia.

Nos primórdios dos anos sessenta, após a morte de Adib Abay, seus filhos, sem interesse pelo empreendimento, leva o Bella Vista à falência, mudam de cidade, e o famoso hotel, uma vez abandonado, transforma-se em refúgio de desordeiros. Foi naquela mesma década que, influenciada pelo aparente sucesso do Edifício Breda, uma família compra o que restou Bella Vista e leva-o ao chão para dar lugar a construção de um prédio que se denominaria “Centro Comercial Palmares”. Tudo isso com a anuência da Prefeitura que, sem dinheiro para a desapropriação e restauração daquele patrimônio histórico, não teve alternativa, pois o monumento tornou-se em um grave problema social. Contudo, como um castigo, talvez, pelo crime arquitetônico cometido, o construtor vai à falência, acumula dívidas junto ao Instituto de Aposentadoria e Pensão, não lhe restando alternativa a não ser entregar o prédio inacabado ao recém-nascido INPS.

Sendo assim, por um inevitável crime cometido, se destruiu um valioso patrimônio cultural e, com um golpe, desta vez, auferido contra os cofres dos IAPs, deu-se origem ao polêmico Edifício Palmares.

Portanto, o Edifício Palmares, que no início era conhecido apenas como o prédio do INPS, depois INAMPS, jamais teve sossego, pois desde o princípio é ameaçado de cair, tendo em vista uma falha no terreno, cuja estaca não encontrou terreno sólido, o que provocou pequena inclinação que anos mais tarde se estabilizou. Mesmo assim, ele jamais conseguiu se livrar da injusta fama de condenado. Na verdade, a história do Edifício Palmares muito se assemelha à do seu falecido vizinho, o Maria Pimenta, que mesmo mudando de dono, de fachada, de nome e até de ocupantes, não conseguiu se desvencilhar da sua fama original.

Como um estigma oriundo, quem sabe por um castigo dos céus, ele foi instrumento de algumas tragédias, o que deixou a população perplexa ao assistir, algumas vezes, os desistentes da vida dar cabo à sua existência. Agora dizem que o flagelado mudou de dono, que vai alterar o nome e até a sua fachada, só não se sabe até quando ele ainda vai carregar a fama de condenado.

E assim foi a história do Edifício Palmares até  que, os anônimos "companheiros", alarmados com as histórias macabras que ouviam, somadas ao péssimo estado de conservação que lhe provocou rachaduras, vazamentos e ferragens à vista, motivou as autoridades do judiciário à sua desocupação e lacramento dos seus acessos, dando origem a mais uma tragédia, desta vez, nas relações interpessoais dos seus ocupantes que, como famílias desabrigadas de uma catástrofe, não sabiam se permaneciam à frente da sua casa interditada a procura de um culpado, ou se caíam em campo em busca de um novo espaço de trabalho.

 

EDSON DE CARVALHO SILVA

 

FONTE:

BULGARELLI, Cláudio - História da Hotelaria de Alagoas -  Ed. Ideias de Comunicação, Maceió, 2012.

http://www.hotelariaemalagoas.blogspot.com.br/

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Edson de Carvalho Silva ESCRITO POR Edson de Carvalho Silva Escritor
Maceió - AL

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Comentários

Emanuel Galvão
Emanuel Galvão

Parabéns! Adorei a informação.