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Táis, tais aí?

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Muitas vezes reclamamos das dificuldades da vida, de como ela é breve, como se fosse isso uma maldição.

Lembro-me de Táis, pequeno, frágil, incapaz de emitir qualquer som, mas atípico, comunicativo.

Sim, comunicativo!

Capaz de falar com um olhar e cheio de gestos quase humanos.

Táis foi nosso hamster por dois anos e meio, o que para sua espécie foi uma vida longa.

Ele poderia ter sido normal, correr na gaiola, fazer exercícios na esteira. Comum, igual a todos os outros, contudo optou por fazer a diferença.

Nas noites insones, quando os problemas do dia a dia ficam maiores que o cansaço, e o sono não vem. Eu me sentava no sofá da sala e ele corria pela gaiola, vinha até a porta na esperança de ser visto e tirado para ficar comigo, solto, correndo pela sala.

Como não imitia som, usava as patinhas pequenas, para bater nas grades e assim chamar minha atenção. Quem ensinou tal estratégia a ele?

- Não sei.

O que sei é que ele sabia chamar a atenção, e quando eu fingia não ver, ele batia novamente e estendia sua mãozinha, como se pedindo algo.

Me fazia sorrir e ir buscá-lo.

Corria, escalava a cortina, depois eu chamava com sua ração e ele voltava correndo para meu colo, enchia suas bochechas de alimento e voltava contente para sua casa.

Quando nas noites bem dormidas, ele me esperava acordar cedo, e vinha me ver.

Corria para porta da gaiola e subia em minha mão estendida. Ganhava meus beijos e meu amor.

Claro, como resistir a isso?

Hamster tem hábito noturno, mas durante o dia, ao ouvir meu chamado:

- Táis, tais aí?

Ele saia sonolento de sua casa, com olhos que pareciam dois risquinhos de tão fechados e vinha ver o que eu queria com ele.

E não adiantava chamar se não fosse minha voz.

Minha filha brincava com ele, ele interagia com as visitas de lhe ofereciam biscoitos e frutas, mas ao som da minha voz, mesmo sem nada a oferecer, ele vinha.

Morreu de uma doença muito humana, câncer.

Nunca mudou sua rotina, mesmo quando o tumor lhe impedia de correr ele vinha andando até minha mão ao meu chamado.

Senti sua morte, como não sentir?

Ainda olho para sua casa vazia e me dói aceitar sua perda.

Mas era tão pequeno.

Não falava;

Não viveu muito.

Mas ainda assim me fez rir, deu alegria a minha filha e era parte da família.

E tem gente que acha que sua vida é sem valor.

Táis, um rato, me ensinou que valemos muito e que não é fartura de anos da vida, ou nosso tamanho físico ou posição social. É nossa atitude e a forma como tratamos os que nos cercam que nos faz importantes, ou não, na história da vida de alguém.

Táis sempre será lembrado com amor.

 

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Cida Lima ESCRITO POR Cida Lima Escritora
Maceió - AL

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