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Resenha do filme "Minhas tardes com Margueritte"

MINHAS TARDES COM MARGUERITTE
Um filme Baseado no livro “La Tête em Frieche, de Marie-Saine Roger e dirigido por Jean Becker
 
Em um banco de praça, duas pessoas diametralmente opostas se encontram e, desta relação, uma espécie de amor platônico se estabelece, sobretudo no coração de Germain, representado pelo ator Gerard Depardier, um homem pobre de meia idade, semianalfabeto, pesando mais de 100 quilos e um cérebro carregado de traumas de infância, dúvidas e ignorância. Por outro lado, Margueritte, protagonizada por Gisèle Casadeus, uma frágil senhora de 95 anos, cuja massa corpórea não devia passar de 40 quilos, mas portadora de um cérebro recheado de boas lembranças como resultado de uma vida pacífica e dedicação aos livros.

German era filho único de uma mulher revoltada por causa dos maus tratos sofridos dos homens com quem se relacionou, e teve uma infância conturbada em virtude das agressividades que sofreu e presenciou. Na escola, tendo em vista a sua forma física e comportamento introspectivo, era zombado pelos colegas e humilhado pelo professor, motivo porque abandonou os estudos antes de concluir o primário, transformando-se em um resmunguento ajudante de feira. Morava sozinho, mas cuidava da sua mãe, que se tornara uma senhora doente e perturbada pelas lembranças de sua vida pregressa. Seus únicos momentos de paz eram proporcionados por uma namorada bem mais jovem, motorista de ônibus, bonita e de boa educação, assim como os momentos em que numa praça, sentava para comer sanduíche, alimentar e quantificar os pombos.

Certo dia, naquela mesma praça, ele se encontra com Marguerite que, a exceção do sanduíche, costumava fazer o mesmo naquele local, momento em que ela buscava sutilmente atraí-lo para o universo da leitura. Assim, enquanto Germain resmungava e saboreava seu sanduíche, ela lia versos de seus autores preferidos, envolvendo-o num mundo pra ele desconhecido. Desta maneira, ele se impressiona com o fato de uma pessoa fisicamente tão frágil, poderia ser ao mesmo tempo forte pela sabedoria, conhecimento literário e maneira pacífica e afetuosa de se relacionar. Posteriormente, a família tira Marguerite da casa de repouso onde morava, e ele, não a encontrando, localiza a sua nova morada e a sequestra, pelo que ela aceita alegremente e até saboreia um de seus sanduíches.

Numa cultura de tanta desigualdade sociocultural como a do Brasil, a exemplo de Germain, há uma infinidade de crianças crescendo sem direito a uma educação, seja doméstica ou escolar, que os façam sentir capazes de ir além das fronteiras que os viram crescer. Eles não evoluem porque as circunstâncias não permitem visualizar o horizonte de possibilidades e pela falta de pessoas que acreditem e os façam crer em seus potenciais. Enquanto isso, eles apenas repetem os infortúnios dos que lhe serviram de exemplo, exceto uma minoria que, como por uma frecha, visualiza uma possibilidade e a transforma em desafio. Assim, como num processo de libertação, contempla uma infinidade de benefícios a serem conquistados e, principalmente, falar a si mesmo: “eu posso”.

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Edson de Carvalho Silva ESCRITO POR Edson de Carvalho Silva Escritor
Maceió - AL

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