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DONINHAS DA VIDA

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Quando criança vivia a catar insetos e na tentativa de tê-los para sempre comigo, aprisionava-os.

Um dos que tinha verdadeira fascinação era a DONINHA, eita bichinho danado de arisco!

Próximo a minha casa (São Bernardo do Campo - SP) havia um corrego que era conhecido como "Rio dos meninos", era um ambiente de relativo perigo, pois a correnteza era forte e poluída, mas havia em seu derredor um capim que atraía alguns insetos e era lá que encontrava as Doninhas.

Com seu "casquinho" preto e vermelho  de um tamanho que cabia no meu olhar curioso, me deslumbrava com sua agilidade, era apaixonante!

Sempre carregava comigo uma caixa de fósforos vazia, era uma doce obceção.

Quando avistava uma ficava trêmula e a respiração ofegante, acredito que perdí várias por esta quase esteria, mas não desistia.

Ao capturar umazinha, ficava em estado de êxtase, nossa mãe, era uma grande alegria, mas logo após me sentia curiosamente desesperada, queria vê-la, tê-la, mas ao mesmo tempo gostaria de não sufoca-la, mata-la, etc., um sentimento de culpa tomava conta do meu ser.

Aquele bichinho delgado, pequenininho e frágil, sufocado e sem seus companheiros, sua casinha, seus irmãozinhos, etc.

Todos os sentimentos borbulhavam no meu pequeno mundo.

Ao chegar em casa ia para um cantinho caladinha e abria a caixa de fósforos e, lá estava ela quietinha, parecia "morta", fechava a caixa de fósforos imediatamente para que ela não fugisse, pois eita bichinho danado, fazia-se de morto  para livrar-se da prisão.

Era com precisão que abria a caixa e, hoje sei que, naquele momento desejava que ela não estivesse viva, mas que também não estivesse morta, só queria perpetua-la e fazer daquele momento um simples para sempre.

Sabia no meu íntimo que não era e nem seria assim desta forma, que as coisas tem um outro para sempre. Hoje isto me trás um toque de lágrima, mas convicta que sei desde de lá o que é o estado de liberdade.

Me arrisquei à abrir minhas caixinhas de fósforos, presenciei, tive minhas quantas Doninhas quis, quis sim deixa-las ir, quis vê-las de perto, conseguí toca-las e, soltei!

Em sua delgada e ágil presença a Doninha me trouxe da natureza, com suas primárias coloridas asinhas, um sentimento que nos dias de hoje é raro e tão perigoso quanto àquele rio corrente e poluído que passava próximo à  minha casa.

Minha Doninhas continuam voando pela aí.

 

* Conhecidas por JOANINHAS

 

 

 

 

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Eliana Carvalho ESCRITO POR Eliana Carvalho Escritora
Maceió - AL

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