Contos de "Vampiro: A Máscara" — Clã Ravnos
A Ilusão da Esperança
Cidade de Nova Samaría
Qualquer um é uma vítima em potencial, desde que cumpra os devidos pré-requisitos; assim funciona a cabeça de um Ravnos. Indra foi educado por seu tutor, Rashadja, sob este princípio ainda quando era uma criança da noite. A cada novo despertar seu corpo se revoltava, exigindo o que era seu por direito, e o princípio já internalizado movia os pensamentos de Indra.
Preciso comer...
As ruas escuras de Nova Samaría era um convite que Indra, dia após dia, aceitava de bom grado; a cidade era boa com ele, garantia sua sobrevivência no que lhe era mais vital: alimento. Foi caminhando por essas ruas que Indra avistou sua presa falando ao telefone, distraída, do outro lado da calçada.
— Dia de sorte.
Misturou-se aos humanos ao chegar do outro lado da rua, camuflando sua presença dos sentidos da presa e das demais pessoas. Rashadja havia alertado Indra para jamais agir com excesso de confiança durante a caça, isso colocava em risco a eficiência do processo e, caso um dos passos fosse comprometido, todos os outros também seriam. A sede aumentava com o decorrer das horas e com ela o natural incômodo interior crescia; a besta desejava sair.
— Não esqueça de passar no supermercado — uma voz feminina estava do outro lado do aparelho; suave, tinha tom passivo, daqueles que ajudam a dormir.
— Tudo bem.
— Acha que vai demorar para chegar em casa?
— Não. Estou próximo do metrô e acabei de encontrar um supermercado. Devo chegar em casa daqui a uns trinta minutos — olhou o relógio no pulso.
— Ótimo! Estou esperando para jantarmos. Te amo!
— Também te amo, Lily! Beijo!
O final da conversa foi o que Indra conseguiu ouvir, mas era o suficiente para seu propósito. Aguardou, paciente, a presa sair do supermercado e a acompanhou até o metrô; desceram as escadas até o piso sem dificuldade, o lugar estava completamente vazio; Indra sorriu. A presa foi quem parou primeiro, enquanto Indra permaneceu dois passos atrás.
— Com licença, senhor! — quebrou o silêncio.
— O que foi?
— Poderia me dizer que horas são?
— São... — os ponteiros giravam sem parar — o que está acontecendo? — a confusão estava expressa no rosto do humano; ele batia o indicador no vidro do relógio na esperança de resolver o problema, no entanto, os ponteiros continuavam girando.
— O que foi, senhor?
— Meu relógio... ele está... estranho.
— Como assim?
— Veja! — levou o pulso até Indra, completamente confuso.
Aquela era a oportunidade que ele estava esperando. Segurou o pulso frágil do humano com força, puxando-o em sua direção com violência, para então cravar suas presas sobre seu pescoço rosado. O sangue escorria pelos lábios de Indra como lágrimas vermelhas enquanto os gritos de dor da presa diminuíam; havia um êxtase naquela prática que transcendia a explicação racional, Indra sentia aquilo por inteiro, o preenchimento, o júbilo, o prazer, o sabor, mas não conseguia pôr em palavras ou conceitos; a filosofia não era capaz de definir o que ele estava sentindo; era algum tipo de conhecimento imaterial, um tipo de revelação divina.
A presa estava atordoada pela mistura de dor e prazer; não conseguia reagir, nem sequer sabia o que fazer, era tudo confuso e estranho, totalmente diferente de qualquer outra experiência que tenha experimentado. Sem nada com o que balizar aquela sensação, não tinha força de vontade para sequer pensar em algo senão aceitar seu destino.
Quando a última gota foi sugada, a presa, tomada pela palidez da morte, perdeu a consciência por completo; a visão escureceu e a transição estava completa. Indra deixou a gravidade cuidar do resto, sem forças devido à catarse. Seu corpo se sentia em total plenitude nos segundos finais da alimentação, até mais que durante o Abraço em si. Eram aqueles meros segundos que corroíam a mente de muitos cainitas de consciência frágil; eles se viciavam no júbilo transbordante e perdiam o controle, deixando um rastro de corpos no processo. Como é de se imaginar, não há um final feliz para eles, não que exista algum final feliz para os cainitas, mas os irracionais aproveitam pouco da não-vida.
O ruído dos trilhos sinalizava que o metrô havia chegado, as portas se abriram, mas não havia ninguém saindo ou entrando, somente um corpo frio e pálido dormindo anunciava que a morte havia passado por ali.
* * *
AVISO
Vampiro: A Máscara é um cenário de RPG de horror e fantasia urbana, baseado no sistema Storyteller para a linha de definição World of Darkness, e centrado nos vampiros em um mundo de fantasia sombria.
Direitos Autorais: White Wolf, Onyx Path Publishing, By Night Studios.
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