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VELHICE ADOENTADA

Do que eu vou dizer aqui
Muita gente é testemunha.
Mesmo se eu falasse antes
Sei que ninguém se opunha,
Pois para o bem da verdade,
Vivi minha mocidade
Sem sentir dor nem na unha.

E fazia de um, tudo,
Jogava bola, corria.
Trabalhava no roçado,
Subia serra e descia,
Tinha coragem de sobra,
Fazia qualquer manobra,
Enfado nenhum sentia.

Comer? Comia de tudo,
Sem nenhuma restrição:
Cuscuz, macaxeira, bolo,
Doce de leite ou mamão.
Comida salgada ou doce,
Carne por gorda que fosse,
Sempre fazia um pirão.

Fumava fumo de corda,
Bebia uma cachacinha...
Por cima do meu comer,
Botava molho, "a graxinha".
Comia tripinha assada,
Mocotó, charque, rabada,
Não dispensava farinha.

Hoje não sou mais tão novo,
Já tenho uma certa idade.
Não tenho a mesma euforia
Que tinha na mocidade.
A doença hoje me oprime,
Me obriga a fazer regime,
Meu alimento é vontade.

Eu que não sentia nada,
Vivia feito um peralta,
Hoje tenho diabetes,
Colesterol, pressão alta...
Me bastou envelhecer,
Mais fácil mesmo é saber,
Qual doença é que me falta.

Até o ganho de peso
Hoje me faz companhia.
Eu que sempre fui magrelo,
Parece até ironia,
De casa pra os hospitais,
Sem contar que tomo mais
De dez remédios por dia.

Muitos dizem que a culpa
Por me encontrar nesse estado,
É da alimentação
Que tive lá no passado.
Não sei se é minha crença,
Mas penso que a doença
Só busca ter um culpado.

Se foi ou não alimento,
Vivo uma vida regrada.
A medição de pressão,
Insulina, caminhada.
Tive um passado festivo,
Hoje vivo depressivo,
A velhice adoentada.

(São Paulo-SP / 23 de janeiro de 2020)
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Ednaldo Alves ESCRITO POR Ednaldo Alves Escritor
Santana do Mundaú - AL

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