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A Menina (Cachinhos Dourados) e a Praia

Senhores, queiram vos acomodar. Vamos.

Assentai-vos. É uma honra receber-vos.

Cordialmente, sede bem vindos.

(William Shakespeare, Macbeth)

 

ERA UMA VEZuma menina branca como a neve e sapeca como os filhotes dos felinos. Ela estava toda contente porque sua mãe finalmente a levaria para a praia. Ela nunca tinha ido à praia, daí a razão de tanta alegria.

Na manhã de domingo, a menina acordou logo cedo e não deixou mais ninguém dormir em sua casa. Primeiro pulou em cima de sua mãe e logo em seguida foi pegando seus brinquedos e correndo para a porta, dizendo:

Vamos mamãe, vamos pra praia! Vamos mamãe, o sol já tá quente. Enquanto a mãe da garota terminava de arrumá-la, chegou o pai, o chefe da casa, e perguntou: — O que é isso? Pra onde vocês pensam que vão?  — Calma querido, disse a esposa. — Nós só vamos dar uma volta na praia e já já voltamos. Não se preocupe. Mas ele não estava preocupado com elas, ele estava com raiva por algo que tinha acontecido no trabalho e não sabia separar as coisas. De repente começou a quebrar tudo dentro de casa. Parecia que estava descontrolado, irritado, furioso. Aí sua filha se aproximou e olhou bem fixamente para ele dizendo:

Papai, você é muito chato. Por que você não para de ser assim? A mamãe e eu te amamos, mas desse jeito a gente não vai ficar mais com você. Ele, todo envergonhado, saiu de casa. Passou o dia todo fora. As duas foram para a praia...

Chegando lá, a menina ficou toda encantada com aquela beleza, todo aquele mar azul e imenso. — Nossa mamãe! O mar é realmente lindo. Bem que você disse que eu iria amar. Durante todo o dia as duas se divertiram muito com muitas brincadeiras, muitos banhos, e, é claro, muito lanche. Afinal, qual é a criança que não gosta de lanchar?

— Mamãe por que a titia não veio com a gente? Ela gosta tanto da praia.

— A sua tia teve que ir trabalhar minha querida. Mas assim que ela ficar de férias a gente marca um dia, e aí vem todo mundo junto. Apesar de parecer calma, a mãe da garota não parava de pensar na atitude do marido. Ela estava decidida a tomar uma decisão. Mas vamos deixar a tristeza dela de lado e acompanhar o dia de alegria da garota dos Cachinhos Dourados.

Ela estava toda contente, vestida no seu biquíni rosa com detalhes amarelos, porque sua mãe a colocou em sua piscina de plástico junto com seus brinquedos. Mas a maior alegria e surpresa aconteceu quando ela ouviu uma voz que não era a da sua mãe. — Oi, Cachinhos Dourados. Você está tão contente, hoje. A menina ficou calada, procurando de onde vinha aquela voz. Só havia os brinquedos perto dela, então segurou firme sua boneca e perguntou:

Foi você que falou comigo? E a boneca respondeu que sim. — Mas como? Disse a menina. A mamãe falou que os brinquedos não falam. Porém, novamente a boneca falou, e disse que a mãe da menina estava mentindo. — Os brinquedos também falam, assim como os humanos. E eles também têm sentimentos, como as pessoas. A menina estava muito, mas muito espantada mesmo. Ela nunca tinha visto aquilo. — Mamãe! Mamãe! Vem cá! A Julia está falando! A mãe da garota correu, achando que alguma coisa estava acontecendo com a filha, mas, quando chegou perto e não viu nada de anormal perguntou por que ela estava gritando. Ela disse que era a sua boneca que tinha falado com ela. — Ora minha princesa, as bonecas não falam, já lhe disse. Todos os seus brinquedos são de plástico ou de pano, e as coisas feitas de plástico ou pano não falam. Fique calma e aproveite o dia.

A menina não entendia por que sua mãe não acreditava nela. Então, a deixou de lado e voltou a brincar com seus brinquedos.

— Ei! Julia, fala comigo de novo. Vamos brincar!

— Oi menina! Como você se chama?

— Eu me chamo Beatriz, mas pode me chamar de Bia. Todos me chamam assim.

— Oi Bia. O que você está achando da praia?

— É realmente como a mamãe disse que era. Muito grande e linda. É pena que ela não acredite que você fala de verdade.

— Não liga não, Bia. Os humanos são sempre assim: quando são crianças, como você, eles acreditam em nós, mas depois que crescem, ficam chatos e não gostam mais de brincar com seus brinquedos. É triste, mas é verdade.  A garota dos cachinhos de ouro passou a tarde toda brincando em sua pequena piscina com seus brinquedos. E todos eles passaram a falar com ela. Parecia que ela era a rainha da areia. Toda contente.

Fim do dia. É hora de voltar para casa, e tentar solucionar o problema que ficou mal resolvido, pela manhã.  Logo na entrada da casa está o pai da garota, aguardando. Mas parece que dessa vez ele não está tão zangado. Será que pensou bem e resolveu se comportar dali pra frente? Assim que a garota o vê pula para seus braços e lhe conta tudo o que se passou na praia. Conta sobre suas conversas com seus brinquedos e como foi bom sair para ver o mar pela primeira vez. Já dentro de casa, a mãe da garota lhe dá um banho bem demorado e a coloca para dormir. E então, volta para a sala e senta-se ao lado do seu esposo, o abraça fortemente dizendo que o perdoa, e que eles devem cuidar juntos, com muito carinho, da criaturinha chamada Cachinhos Dourados, que é a coisa mais importante na vida dos dois.

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
Maceió - AL

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