O Menino e a Peça
Ouça: atrevo-me, sim,
Em tudo quanto um homem atrever-se pode. Acredite bem.
(William Shakespeare, Macbeth)
ERA UMA VEZum garoto chamado César. Esse menino tinha brigado com sua irmã e ela, como castigo, não o deixava mais ler os seus livros, principalmente as peças de Shakespeare. César adorava ler as peças do autor inglês, e seus pais lhes deram uma coleção completa, adaptada para crianças, das obras do escritor. Porém, depois da briga, a irmã do menino o proibiu de pegar nos livros.
— E agora o que vou ler? Onde vou achar um livro que tenha uma peça de teatro para crianças?César estava desesperado. — Não é justo ela fazer isso comigo! Vou sair por aí e comprar um livro pra mim. Embora fosse um menino muito esperto, ele não tinha dinheiro, porque ao contrário de sua irmã que guardava a mesada, César gastava tudo com doces e brinquedos. Julia, sim, era prevenida e sempre tinha uma graninha reservada para comprar um pequeno livro, quando iam à livraria com seus pais.
— Mãe! Vou aqui e já volto, disse o garoto. E saiu pelas ruas, pensado em como iria conseguir um livro.
Passados vinte minutos, e como a noite já estava chegando, o pequeno leitor decidiu voltar para casa. Enquanto andava, de cabeça baixa, tropeçou em um pacote. — Nossa o que será isso? Será que devo abrir? É melhor deixar para abrir em casa. Apressandoo passo, em dez minutos lá estava César. Subiu as escadas como um foguete e pulou em cima da cama.
Assim que rasgou o embrulho, uma surpresa: era um livro. Na capa estava escrito: O Grande Rei (o Poder, o Sonho e a Esperança), uma peça de teatro para crianças, escrita por Francisco Malaquias. Mas o menino achou estranho alguém perder um livro novinho. — Quem seria tão desleixado a ponto de perder uma coisa assim? Deixa pra lá, é melhor pra mim, que tanto queria ler uma peça de teatro. E, sem demora, começou a folhear seu mais novo presente.
— Nossa que estória bonita. Esse Nito é mesmo um sortudo. Ele conseguiu entrar em um mundo mágico e parece que vai salvar as outras crianças. Tomara que ele acabe com esse Grande Rei. O menino estava tão empolgado com a leitura que não viu o tempo passar. E continuou lendo...
— Peraí! Que barulho foi esse? Tem alguém aí?
— Oi meu amo. Sou eu o Gênio.
— O quê!? Não pode ser. Você é o gênio da estória do Nito?
— Sim, sou eu. E você tem direito a três pedidos. Pode começar.
— Primeiro eu queria conhecer o Nito. Me leve aonde ele mora, já!
— Tudo bem, meu amo. Pluft! Plaft! Plin!E como num passe de mágica os dois desapareceram e reapareceram em outro lugar.
O garoto Nito estava quase dormindo quando viu os seus hóspedes. Então, levantou-se e convidou César a sentar-se na sua cama para conversarem sobre as suas aventuras. Nito contava como tinha derrotado o Grande Rei, enquanto o outro pequenino observava e ouvia tudo atentamente. Dissera que tinha feito uma grande amizade com Lito. E sempre que podia o gênio o levava ao mundo encantado para se reencontrarem.
Durante horas os três conversaram e viajaram pelo mundo encantado de Lito. Viram os Valetes, os Guardiões e todas as crianças que viviam ali.
— Bem Lito, já tá hora de voltar para casa. Acho que minha família está me procurando.
— Tudo bem. Mas volte quando quiser. É só chamar o Gênio.
Os dois se despediram e mais uma vez o Gênio disse as palavras mágicas: Pluft! Plaft! Plin! E reapareceram no quarto de César.
— E agora meu amo. Qual é o seu próximo desejo?
— Bem. Desejo que minha irmã não fique mais com raiva de mim e que a gente nunca mais brigue.
— Pluft! Plaft! Plin! Está feito meu amo.
— Nossa! Era bom se todas as crianças tivessem um gênio só pra elas.
— (risos). Não diga isso, mestre. O que seria de nós, pobres gênios. Iríamos trabalhar bastante.
— Tem razão. Deixa isso pra lá. Posso fazer o meu último pedido?
— É claro que pode.
— Eu desejo que você seja livre. Livre para viver a sua vida.
— Obrigado, meu amo. E o gênio sumiu, todo contente.
Toc!toc!toc! Alguém bateu na porta do quarto do menino. — Quem será a essa hora? César foi abri-la e tomou um susto. Era sua irmã, que tinha ouvido vozes vindas do quarto dele e resolveu olhar. Mas se os dois estão brigados, por que ela foi até lá? Será que já fez efeito o pedido do garoto?
— Entra Julia. Por que você veio até aqui? Já passou a sua raiva?
— Acho que a gente não deveria brigar. Afinal somos irmãos, e gosto muito de você.
— Nossa! Fez efeito mesmo o pedido.
— Que pedido? Que efeito? Você tá batendo bem da bola??
— É claro que tô. Foi uma coisa que pedi e que se realizou.
— Ei! Que livro é esse aí na sua cama?
— Eu o achei na rua. Estava embalado. Acho que alguém o perdeu, e agora é meu.
— Deixa eu ver essa embalagem e o livro.
Quando Julia pegou a embalagem, a reconheceu imediatamente e explicou que esse livro era seu. Ela o comprou hoje, mas quando estava voltando para casa se distraiu e o perdeu. Embora César não acreditasse muito nessa estória, decidiu reparti-lo com ela.
— Esse livro é mágico, Julia. Senta aqui que vou te contar o que aconteceu comigo quando estava lendo.
De repente apareceu um Gênio e...
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